Preparados para o fim?
Colaboração e Texto : Gabriela Ribeiro
Em agosto, daremos adeus a uma das mais excepcionais séries da
atualidade, nossa querida e explosiva Breaking Bad. E é mais do que
válido rever a série até lá. Ou, pelo menos, relembrar as temporadas
anteriores e o que faz dessa série um destaque da televisão atual.
Já na primeira temporada sentimos o gosto de uma produção de qualidade.
Direção e cinematografia excelentes, atuações dignas de Emmys e
roteiros de tirar o fôlego.
Mas qualidades da série não param por
aí. O trabalho de desenvolvimento de personagens é incrível. Não
existem mocinhos ou vilões em Breaking Bad. Todos têm virtudes e
defeitos. Ainda, a série consegue deixar um drama moral. O que Walter
está fazendo é tão errado assim? Já me peguei defendendo o personagem,
mesmo tendo consciência de que o que ele faz é crime. Mas ele quer usar o
dinheiro para prover para sua família. Mas se ele não cozinhar as
drogas, outro o fará. Mas o que ele faz é errado.
A primeira
temporada mostra um ritmo intenso, com direito a acontecimentos dos mais
diversos e inesperados. Ameaças de morte. Skyler grávida. Walter
matando Krazy-8 (um informante da DEA) sem piedade quando este planejava
atacar Walter com um pedaço de um prato quebrado. Jesse dissolvendo o
corpo de um traficante na banheira (e tendo que limpar a nojenta bagunça
que acabou fazendo). A intervenção que Skyler organiza para Walter. Os
efeitos da quimioterapia depois que ele cede ao tratamento. Jesse
hospitalizado. Marie cleptomaníaca. E a cena, que me fez parar e pensar
“que série maravilhosa”, na qual Walter vai até Tuco (um traficante
poderoso) e simplesmente explode o local, saindo de lá com o dinheiro
que lhe cabia. E ainda tem gente que consegue achar a série lenta. Pois
é.
A intensidade (da série e das maratonas que as pessoas fazem) é
constante. Podemos ver claramente uma evolução no caráter criminoso de
Walter quando ele ajuda Jesse a tentar matar Tuco (e num episódio com
sequencias geniais, são impedidos pelo tio de Tuco – cujo apelido é Tio,
há)
É nessa temporada também que Jesse enfrenta problemas
financeiros e é despejado por seus pais. Ele aluga um lado de um duplex e
conhece Jane. Ah, Jane. Eles conversam, namoram e acabam se
apaixonando. Também dividem a paixão pelas drogas. Os dois tentaram se
livrar do vício, mas ficaram sóbrios por pouco tempo. Adoro a relação
dos dois, nos mostra um lado diferente de Jesse (e a profundidade dos
personagens só cresce!). Mas Jane tem um fim próximo. Ela sabe de
Walter, de Jesse e, principalmente, do dinheiro. Chantageia Walter e ele
a entrega uma quantia significativa. Naquela noite, ela sofre uma
overdose de heroína e Walter, que voltou recuperar o dinheiro (inspirado
por uma conversa com o pai da Jane, ironia fantástica), num momento de
frieza extrema, apenas a deixa morrer engasgando no seu próprio vômito.
Uma atitude necessária na visão de alguns, mas desumana na visão de
outros. As duas opções, na minha (e acredito que na de muitos outros
também).
No âmbito familiar, temos Walter Jr. sendo um filho
exemplar e criando um site para arrecadar dinheiro para o tratamento do
pai, que não gosta nada (afinal, ele já dispõe do dinheiro). O
entusiasmo de Walter Jr. é contagiante, nos deixa com dó do garoto
diante das ações de seu pai. Também temos Skyler voltando ao trabalho,
tendo momentos íntimos com o chefe, Ted, e descobrindo fraudes nas
finanças da empresa.
Quando Walter acha que receberá notícias
ruins de seu médico, convence Jesse a participar de uma “maratona” para
cozinhar muita metanfetamina. Eles acabam sem bateria e sem água no meio
do deserto. Nesse momento, fica claro que Walter não esqueceu sua
principal motivação: deixar dinheiro para sua família. Em mais um
momento de genialidade, Walter constrói uma bateria.
Saul (que
parece que ganhará um spin-off) nos é apresentado. Walter precisa lavar o
dinheiro e Saul encontra uma maneira através do site que Walter Jr
criou. Interessante, não? Agora o site é útil para Walter.
No
final da temporada, Walter perde o nascimento de sua filha (pois teve
que substituir Jesse no tráfico). De cortar o coração, mas foi uma
escolha dele ignorar as ligações de Skyler. Ele que lide com as
consequências, certo? E num momento final de tirar o fôlego, um avião
explode logo acima o bairro em que Walter mora. Uma temporada de um
nível alto, mas não esqueçamos que a terceira está pela frente e, bem, o
nível só subiu.
Uma das minhas preocupações ao assistir séries é
o enchimento de linguiça presente em temporadas mais avançadas. Mas
estamos falando de Breaking Bad, aqui não tem enrolação. Nessa
temporada, os roteiristas, além de terem feito um trabalho
impressionante, correram um risco. Escreveram um episódio de cada vez,
sem um plano para a temporada. Eles não sabiam para onde estavam indo e
isso pode ser muito perigoso. Ou muito genial.
Gus nos é
revelado como o grande vilão da série, um cara, à primeira vista, comum,
escondido num simples gerente de uma rede de fast food. E é mais uma
das atuações incríveis com as quais essa série conta. Walter passa a
trabalhar para Gus, num super laboratório e aí temos mais um exemplo da
química entre Walter e Jesse. Os dois trabalhando juntos são a reação
perfeita.
Finalmente, Walter revela a Skyler todo o seu segredo.
E, com a condição de ele conceder o divórcio, ela promete manter
segredo. Amor ou ela não é essa pessoa moralmente correta que
transparecia? Como já disse, não há vilões e não há mocinhos por aqui.
Todos têm desvio de caráter. E não para por aí, ela se envolve na
lavagem de dinheiro junto com Saul. Dá pra chama-la de hipócrita, eu o
faço sem hesitar.
Walter mostra-se um homem ainda mais mudado.
Agora, não o incomoda nem um pouco matar alguém. É quase que parte do
seu cotidiano. Tornou-se um ser humano odiável. Mas ainda é difícil não
desejar que dê tudo certo no final. A insatisfação de Jesse com o
acordo com Gus o leva a matar Gale (aquele primeiro assistente do
Walter) e agora, cuidado, porque a briga com Gus foi comprada. E Gus não
é lá a melhor pessoa pra se ter uma desavença.
Agora na quarta
temporada, o bicho pega. Gus mostrou seu poder ao cortar a garganta de
Victor. Assim, com a maior naturalidade. Acho que se um dia eu vir o
Esposito na minha frente eu saio correndo, de tão fria que foi sua
atuação naquela cena.
Para dificultar a vida de Walter, a DEA
só se aproxima de Heisenberg. O departamento tem em mãos as anotações do
falecido Gale sobre o super laboratório e a metanfetamina 99%
pura.
E tem ainda Hank, que foi um completo cretino com a Marie durante boa
parte de sua recuperação (ele foi atingido por uma bomba, lembram?).
A partir daí, o ritmo é frenético. Numa season finale épica, Walter e
Jesse queimam o super laboratório (a DEA estava na cola do Gus e logo
descobririam aquele laboratório, era questão de tempo). Ainda, Salamanco
(Tio) e Gus são mortos. De uma vez. De uma maneira surpreendente que
deixa Gus sem parte do rosto.
Na metade que tivemos da última
temporada da série já dá pra perceber que o nível vai continuar nas
alturas. Emoção é o que não falta. Como por exemplo logo na season
première onde Walter e Jesse tem um plano mirabolante para destruir
evidências na polícia. “YEAH, BITCH! MAGNETS!”. Confesso que comemorei
com Jesse nessa cena.
E Skyler tendo um colapso na festa de
aniversário e tentando suicídio foi outra das surpresas que tivemos.
Vejo muita gente julgando a Skyler, mas é só você se colocar no lugar
dela pra perceber o peso da situação. Tá certo que ela toma atitudes
duvidosas muitas vezes, mas o que a vida dela se tornou em tão pouco
tempo não deve ser algo fácil de lidar.
E não é que Jesse
surpreende e arquiteta um plano para roubar um trem e conseguir os
materiais que eles precisam? Genial. Outra sequência de tirar o fôlego,
que te deixa numa agonia e num suspense enormes. Logo também fica muito
visível a ganância que tomou conta de Walter. Antes, bastavam os
milhares de dólares que ele queria deixar para a família. Agora, 5
milhões são pouco. Ele quer, em suas próprias palavras, um império. E
daí eu só vejo saindo mais conflito.
A temporada entra em hiatos
com um super cliffhanger, uma das situações mais esperadas e/ou temidas
pela maioria dos fãs da série: Hank agora ligou os pontos. Caiu a
ficha. Walter matou todos e destruiu todas as evidências que poderiam
denunciá-lo, mas esqueceu de algo simples. Uma dedicatória num livro.
Que
Breaking Bad deixará saudade, não é nenhuma novidade. Uma série
imprevisível, a única previsão que podemos fazer é uma series finale que
nos deixará com o coração na mão. Agora, só nos resta esperar e
descobrir o que o final trará para cada um desses personagens que, mesmo
cheios de falhas, nos conquistaram.
Matéria ótima!!!! Belo resumo da série, adorei!
ResponderExcluirBreaking Bad é a melhor série da atualidade, acho que quando acabar só Homeland p preencher esse vazio.
ExcluirQue delícia de artigo. Parabéns! <3
ResponderExcluirLindo né, já reli umas vezes, tá demais
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